sexta-feira, 1 de abril de 2011

o dia em que todos tem permissão para mentir

Como hoje é dia primeiro de abril, o primeiro post do blog. (meu, pois o nosso presidente me deixou falando sozinho no MSN.) Nada mais justo que começar falando de mentiras.

Mas falar de mentiras pode ser bem genérico, afinal o que não falta nesse mundo são mentiras. Escolhi então falar de um livro que tive o prazer de encontrar em uma daquelas prateleiras de caixa de supermercado. AS MENTIRAS QUE OS HOMENS CONTAM de Luiz Fernando Verissimo.

Um livro cheio de contos com tiradas incríveis. Não vou contar a "moral do livro", pois vale à pena ler...

Vou "clonar" apenas um capitulo:

A Aliança.

Um sujeito estava voltando pra casa como fazia, com fidelidade rotineira, todos os dias a mesma hora. Um homem de aproximadamente 40 anos, naquela idade que já sabe que nunca será o dono de um Cassino ou um craque de fotebol, mais ainda pode esperar algumas surpresas da vida, como ganhar na loteria ou furar um pneu do seu carro. E neste dia, furou-lhe o pneu. Com dificuldade parou o carro no acostamento e preparou-se para a batalha contra o macaco, não um dos macacos que o desafiavam no jângal dos seus sonhos de infância, mais o macaco de seu carro tamanho médio, que provavelmente não funcionaria, resigninação e reticências... Conseguiu fazer o macaco funcionar, ergueu o carro, trocou o pneu e já estava fechando o porta-malas quando a aliança escorregou pelo dedo sujo de óleo e caiu no chão. ele deu um passa para pegar a aliança no asfalto, mais sem querer a chutou. A Aliança bateu na roda de um carro que passava em alta velocidade e voou para um bueiro. Onde desapareceu diante de seus olhos, nos quais ele custou a acreditar. Limpou as mãos o melhor que pôde, entrou no carro e seguiu para casa. Começou a pensar no que diria para a mulher. Imaginou a cena. Ele entrando em casa e respondendo as perguntas da mulher antes de ela fazê-las.

- Você não sabe o que me aconteceu!

- O quê?

- Uma coisa incrível.

- O quê?

- Contando ninguém acredita.

- Conta!

- Você não notou nada de diferente em mim? Não está faltando nada?

- Não.

- Olhe.

E ele mostra o dedo sem aliança.

- O que aconteceu?

E ele contaria. Tudo exatamente como acontecera. O macaco, O óleo. A Aliança no asfalto. O Chute involuntário. E a aliança voando para o bueiro e desaparecendo.

- Que coisa - diria a mulher, certamente.

- Não é difícil de acreditar?

- Não. É perfeitamente possível.

- Pois é. Eu...

- SEU CRETINO!

- Meu bem...

- Está me achando com cara de boba? De palhaça? Eu sei o que aconteceu com essa aliança. Você tirou do dedo para namorar. É ou não é? Para fazer um programa. chega em casa essa hora e ainda tem a cara-de-pau de inventar uma historia dessas, em que só um imbecil acreditaria.

- Mas, meu bem...

- Eu Sei onde está essa aliança. Perdida no tapete felpudo de algum motel. Dentro do ralo de alguma banheira redonda. Seu sem vergonha!

E ela sairia de casa, com as crianças, sem querer ouvir explicações.

Ele chegou em casa sem dizer nada. Por que o atraso? Muito transito. Por que essa cara? Nada. E, finalmente.

- Que fim levou sua aliança?

E ele disse:

- Tirei para namorar. Para fazer um programa. E perdi no motel. Pronto. Não tenho desculpas. Se você quiser terminar nosso casamento agora, eu compreenderei.

Ela fez cara de choro. Depois correu para o quarto e bateu com a porta. Dez minutos depois apareceu. Disse que aquilo significava uma crise no casamento deles, mas que eles, com bom-senso, a venceriam.

- O mais importante é que você não mentiu pra mim.

E foram jantar.


Muito bom este conto, e o livro está cheio deles. Este livro é uma grande pedida, leitura fácil e agradável.